LIBERALITAS JULIA

Estórias d´Évora

sábado, maio 05, 2007

Coliseu de Évora


Os Touros


Como é sabido, a variedade bovina dotada de bravura é uma espécie zoológica arcaica que se perenizou na Espanha quando, muitos séculos antes, tinha desaparecido de todo o mundo.
As causas desta perduração ainda não foram esclarecidas.
Somente é patente que, nas últimas três centúrias, as festas nobres de touros, primeiro, e as corridas populares, depois, conseguiram a sua artificial conservação.
Não sei se se tem isto bem em conta.
Se se está atento a que essa função da coragem, o que na terminologia taurina se chama «casta», é superlativamente instável e sempre a ponto de se extinguir.
A fúria da nossa rês brava não se parece com nenhuma outra no mundo animal ainda existente.
Isto tornava muito difícil explicar a origem zoológica do bovino que com tanta paixão a exerce. De um lado, aparece o touro especificamente bravo rodeado por toda a parte por bovinos domésticos em que tal ou qual exemplar manifesta ocasionalmente bravura, mas que como linhagem tornaram proverbial a sua mansidão.
De outro lado, acontece que todas as variedades, espécies ou subespécies de bovinos domésticos e mansos por sua natureza, provêm de um tipo de touro originário, o bos primigenius, que era feroz.
Os Alemães chamam-lhe auerochs, o touro selvagem, e os Germanos e Celtas deviam chamar-lhe com um nome parecido, que aos ouvidos de Júlio César soava urus.
Foi ele quem introduziu este vocábulo na língua latina.


(Ortega y Gasset, Sobre a Caça e os Touros, Ed.Cotovia, 1989, pag. 129)