LIBERALITAS JULIA

Estórias d´Évora

domingo, março 29, 2009

Passaporte da Malagueira

"Onze horas da manhã.
Na Malagueira, neste primeiro dia de 1998, cai uma chuva miudinha... ...Entre o casario branco, colados às habitações, os carros impedem a circulação.
Eis-me no interior do conjunto urbanístico construído pelo mais famoso arquitecto português, Álvaro Siza Veira.
...A humidade escorre pelas paredes. Por todo o lado se vêem sacos rotos, coberturas deterioradas, calhaus fora do sítio, buracos nas ruas, montes de lama, ervas selvagens, lixo.
Se alguma vez existiram, o sentido de comunidade, a responsabilidade social, o espírito público, esfumaram-se.
Mas o pior ainda é aquela espécie de aqueduto, de tijolo escuro, onde Siza Vieira decidiu instalar as infra-estruturas usualmente soterradas.
O bairro, já de si monotonamente arregimentado, é atravessado por uma fileira de pilares verticais, ligados entre si por barras, onde foram colocados os fios eléctricos, os cabos da TV e os canos de água.
Se, no estirador, a invenção parecia engenhosa, a realidade tratou de demonstrar o contrário. Nalguns momentos, como naqueles em que, ao fundo de uma ruela, se entrevê um insólito olho, ou quando, no intervalo entre casas, deparamos com pilares segurando uma espécie de guarita, o que nos invade é o medo de estarmos diante de um campo de concentração. Aquela fila, até ao infinito, de arcos rectangulares sobre arcos rectangulares provoca uma angústia a que poucos conseguirão escapar..."

4 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Maria Filomena Mónica é Socióloga. À partida tenho apreço pelo seu trabalho. Gostei (como poucos amigos meus) do seu livro Bilhete de Identidade. Pelo estilo e pelo formato. Dei de barato a sua intrínseca vaidade.

Uma pessoa (de quem gosto ainda muito mais do que Filomena Mónica) ofereceu-me o recente Passaporte. A motivação para o devorar estava garantida. Folheando reparei que para além de revelar os muitos lugares onde se tinha passeado, a autora incluía opiniões sobre o bairro onde moro. Abri as páginas respectivas … e fiquei sem pinga de vontade de ler o resto.
Sei que este é o lugar e o momento de luta política - partidária, a propósito do que quer que seja. Também sobre a Malagueira. Tenho opiniões, também eu irei votar.

E sei mais, que eu e F. M. não estamos em igualdade de circunstâncias, já que ela terá publicado este mesmo artigo num jornal de divulgação nacional e o publica agora num livro com impacto. Eu moro no bairro sobre o qual ela opina depois de um olhar de escassas horas. Por inúmeras razões não me farei ouvir ao mesmo nível que ela.
Mesmo assim, sempre lhe direi que como socióloga deveria conhecer a palavra “estigma”. “Os gregos, que tinham bastante conhecimento de recursos visuais, criaram o termo para se referirem a sinais corporais com os quais se procurava evidenciar alguma coisa de extraordinário ou mau sobre o status moral de quem os apresentava. Os sinais eram feitos com cortes ou fogo no corpo e avisavam que o portador era um escravo, um criminoso ou um traidor – uma pessoa marcada, ritualmente poluída, que deveria ser evitada, especialmente em lugares públicos” Goffman.

F. M. com as suas viagens fantásticas e olhar privilegiado mais não faz que lançar “estigma” sobre um Bairro onde terá vindo uma vez. (Ao que conta não deve ter querido cá voltar). Numa outra cidade da Ásia ficou 19 h e também opinou, ainda que os locais a tenham avisado que para se conhecer é preciso ficar 19 anos.

Eu moro naquele lugar, e sobre o qual gostaria de conversar para melhorar.É um bairro que tem poemas por escrever, ruas por limpar, outras coisas por fazer.
Mas parece-me pouco sensato, construtivo, interessante, deontológico, (e muitas coisas mais) lançar e sustentar publicamente opiniões fundadas no passeio da minha manhã ou na supremacia do meu ser.
Todos temos direito à opinião. F. M. divulgou a sua. Muitos compraram.
A minha é dada. Anónima. Sem estigma. Eu moro ali. Sinto-me, desde que lá estou, num lugar em construção. Num lugar de que gosto. Do qual faço parte. Com outros: vizinhos, muitos, cães, gatos e mais… E sem a F.M., felizmente.

4:21 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

deves ser compincha da arqt guida prognata

7:51 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

@7:51 PM
Quando faltam argumentos ataca-se a pessoa. É próprio desta xuxaria nacional.

10:00 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

a guida da malagueira
deixou a freguesia numa estrumeira

9:49 da tarde  

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