LIBERALITAS JULIA

Estórias d´Évora

terça-feira, dezembro 01, 2009

Para os tempos de crise

"...Falam de sexo e de leis, da casa no Alentejo, que transformaram numa província promíscua, duas horas até Albufeira, Murakami, vinhos conhecidos pelo Guia, um duas estrelas do Michelin, gourmets de Galamares...
...Há também os que legislam sobre o mundo a toda a hora (trata-se de mudar o mundo a cada minuto, por decreto se possível), apreciam a ASAE que expulsa os piolhos e as marcas de ginja no balcão de zinco e proíbe as velhinhas de fazerem croquetes sem emitir facturas...
... Fazer tudo em nome dela, da civilização – que há-de ser apressada por medidas estruturantes e estruturais, leis sobre o sexo e o tamanho da maçã reineta.
É uma das piores raças: os enochatos.
O vinho e a sua temperatura, o copo ideal, a colheita, a cortiça, ah bebi um assim em Valladollid quando ia a caminho de Bilbau (ia visitar o Guggenheim), os jantares de degustação, o Can Fabes (ah, mas eles odeiam Santi Santimaría, tão plebeu) e Ferran Adrià (ah, a tortilla com espuma de batata em vez de batata, que descoberta do caralho, uma espécie de Nestum de batata mas sem açúcar), aroma de aroma de amora, taninos fortes, um vinho único com explosões de carqueja e final de boca de abacaxi, uma gota extenuante, este para a entrada, aquele para primi piatti, o outro para secondi, por aí fora, palatos que debicam agnolotti ricotta e spinaci decorati con ravanelli ou as pataniscas de bacalhau aromatizadas com caril de Madras (de Madras!), ou ainda o finíssimo coulis de tomate fresco com manjericão e arroz Basmati com gambas, bom para um vinho confitado em azeite de ginja com molho de amêijoa."

FJV no blog origem das especies