LIBERALITAS JULIA

Estórias d´Évora

sexta-feira, março 05, 2010

funcionários públicos

"Assenhorearam-se do aparelho de Estado para cobrarem uma pesada e já insustentável renda à sociedade.
Têm instrumentos de imposição das suas exigências que mais ninguém tem na sociedade à volta. Um enquadramento legal de excepção que os torna praticamente inamovíveis das posições em que se instalaram.
Não vão para o desemprego, se fizerem falhar a organização em que trabalham, ou se esta se tornar inútil porque deixou de ter função social ou economicamente justificável, como vão os demais portugueses.
Estão em sectores de actividade que, se paralisarem, paralisam o país: as escolas, os hospitais, as forças de segurança, os tribunais, etc.
Vivem na redoma mental dos direitos adquiridos, como uma espécie de absoluto. É-lhes radicalmente estranha qualquer consideração sobre o ónus envolvido.
Hoje são cerca de 12% da população activa.
Arrecadam, os activos e reformados, sob a forma de salários e pensões cerca de 12% do Produto Interno Bruto (PIB). Uma vez que a partcipação dos rendimentos do trabalho representa cerca de metade do PIB, é fácil de ver que têm um quinhão próximo do duplo do resto da sociedade.
É certo que a média das suas qualificações é superior à média da sociedade. Mas também é certo que, em múltiplos sectores onde têm garantidos vitaliciamente os empregos não há mercado, porque os poderes não quiseram.
As corporações mandam. Talvez porque em grande parte os poderes sejam eles. Hoje estão de greve, porque acham que tudo isso é pouco.
Numa altura em que o desemprego para os outros sobe em flecha e os salários médios dos outros vão forçosamente baixar.
Hoje quiseram avisar: os outros que paguem a crise.
Se não se romper com este emaranhado, há-de romper-se com quê?"


no Cachimbo de Magritte